quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A rotina, a labuta, o ônibus e as pessoas

Não que seja costumeiro, mas decidi mudar um pouco a rotina pra tentar entender um pouco da loucura diária em que vivemos. Assustei com o que vi. Levantei cedo como sempre e fui dar minha caminhada, que agora mudou o local porque mudei de endereço. Dei minhas topadas e voltei pra casa, tomei meu banho, me vesti, tomei meu café e decidi sair de casa. Estou de férias e decidi sair de casa cedo e pegar um ônibus, na hora boa mesmo, aquela que você sabe que não tem espaço pra respirar direito dentro do ônibus quanto mais sentar. Sorte é conseguir entrar, fora o tempo que se gasta esperando o ônibus na parada. Vesti roupas comuns, não me atrevi a me arrumar demais para não passar mais calor do que já imaginava que ia enfrentar e enfrentei. Fui até a parada que fica em frente ao extra da Epitácio Pessoa e esperei para pegar um ônibus, decidi pegar um dos circulares para aproveitar e conhecer a cidade em que moro, porque não conheço quase nada, mea culpa. Esperei uns 15 minutos até que o 1500 passasse. Parada lotada, hora do trabalho, ônibus lotado. Fazia sol, eram 6:15 da manha e pareciam ser umas 10 horas, a temperatura dentro do ônibus engana qualquer um que esteja sem relógio e seja desnorteado, como um bêbado que encontrei na parte traseira sem passar a roleta que dormia como se estivesse na cama mais macia do mundo e transpirava toda a cachaça da madrugada passada. Nesse ambiente tão comum e diário encontramos todas as situações possíveis, desde pessoas como eu que querem pensar e passar o tempo, o rapaz embriagado dormindo até as pessoas que estão correndo pela vida que estão indo pra labuta diária ser exploradas e tentar viver nessa sociedade. Porém, a maioria vive situações tão parecidas, sentimentos tão próximos, realidades tão idênticas, mas não percebem e parecem que vivem isolados uns dos outros e foda-se o problema dos outros, mas isso é reflexo do que o sistema constrói. Uns 20 minutos depois, alguém sai empurrando naquele espaço gigante que temos em um ônibus lotado, o que incomoda bastante é claro, a pessoa que empurra sai gritando e pedindo para o motorista esperar porque vai descer. O motorista, que foi compreensivo, esperou e a pessoa desceu. Não sem escutar das pessoas presentes "se vai descer tem que ta na frente" "presta atenção" e por aí vai. Dois fatores são interessantes, o primeiro é não se tinha muito a escolher onde ficar no ônibus, na frente ou atrás, sorte de quem conseguia entrar e pronto, depois era engolido e cuspido onde tinha que descer empurrando e se amassando todo. A segunda é, será que ele não teria cochilado? Até porque muitos ali chegam muito tarde em casa e acordam muito cedo, estão mortos de cansados e cochilar na ida pro trabalho faz parte do sono essencial que se tem no dia, então um pouco de compreensão era necessário. Detalhe, ele pediu licença ao passar sim, não estou tentando justificar, mas que eu compreendera isso naquele momento e não tive mais a raiva instantânea tão comum.Continuamos a viagem. O ônibus não deixava de parar e lotar mais, temperatura nada agradável, suando como o bêbado só não transpirando a cachaça que não tomei na madrugada. Continuamos, as pessoas conversando, reclamando umas das outras e contando seus causos. Rotina e seguimos. Até que o engarrafamento começou e de repente todos viram para o mesmo lado da janela, um acidente. Pensei, será que alguém se feriu gravemente? O SAMU já presente e muitas viaturas também, deve ter sido grave, pensei. Enquanto isso, todos reclamavam com o motorista e gritavam pra acelerar e olhavam ao mesmo tempo curiosos, alguns passavam gritando e reclamando por atenção na direção. Pensei, é algo muito estranho, ao presenciarmos tais situações em que outras vidas podem estar sendo perdidas e tanto sofrimento causado, só consigamos pensar que a porcaria do trânsito não anda e que estou atrasado pra x ou y, mesmo que seja pro trabalho, são vidas ali, pessoas como eu ou você. Seguimos viagem depois de encarar 40 min para atravessar poucos metros. Superamos o transtorno. O motorista acelerando, acho que estava atrasado, tentando ultrapassar os carros para ganhar tempo, começou a furar paradas e a parar só quando pessoas queriam descer. É estresse grande e diário. Sempre com pessoas gritando "prestenção motô, ta carregando boi não". Seguimos em alta velocidade, o ônibus começou a ficar vago, já eram mais de 8 da manha, apesar de a temperatura continuar enganando parecendo ser no mínimo 12 hrs. O bêbado levantou-se de repente e foi passando, com mais facilidade, já havia lugares vagos. Pagou sua passagem enquanto passava os que continuavam no ônibus o olhavam julgando como se fosse um condenado a prisão perpetua, um estuprador ou algo do tipo. Sim, ele exalava um cheiro que incomodava um pouco, porém isso não definia o que ele passava e o que ele vivia. Os motivos que o levaram ao bar e a dormir naquele ônibus ninguém ali sabia e nem procurou saber, ele pediu a parada e descendo perguntou ao motorista onde estava o motorista nem olhou-o na cara e quando ele desceu acelerou. Antes disso, escutei ainda o "muito obrigado" que o rapaz bêbado soltou antes de saltar. Foi o único que escutei naquele dia e veio da pessoa que menos se imaginava, observei o rapaz pela janela enquanto o ônibus seguia viagem, ele sentara na calçada e começava a chorar. Seguimos viagem. Chegamos no ponto final, o cobrador avisou que não seguiriam viagem, desci, agradeci por ter conseguido chegar onde queria. Não, eu não queria chegar ao ponto final, mas tinha chegado não só ao local, mas os pensamentos chegaram a mim nessa manha como em nenhuma outra. Segui viagem de volta no próximo ônibus que peguei, mais cuidadoso e pensativo. Como falta compreensão e reconhecimento das pessoas para com o próximo ou com o distante, para com os amigos ou estranhos. Isso me assustou, mas segui minha viagem de volta um pouco mais calmo, mesmo que o calor só aumentasse e o estresse também. E depois disso tudo as pessoas só estão começando o seu dia a dia, o seu trabalho e vão se desgastar o dia inteiro, a semana inteira, até o fim da vida. Eu estou de férias, não estava tão preocupado com o tempo e com o que viria por isso, mas imaginei um pouco do que as pessoas enfrentam. Assim segui minha viagem até em casa tendo crescido muito mais do que imaginava e conhecido muito mais do que imaginei, talvez menos a cidade, mas conheci mais das pessoas. 

3 comentários:

  1. Poderia bem intitular-se "Crônica da Cidade de Joõao Pessoa"...Quem sabe são os rastros de um futuro escritor!!! Parabéns!!!
    bjs do Pai-Avô

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  2. Identifiquei-me com você, mas ando esquecendo de perceber as pessoas e paisagens. Um bom alerta!
    Te amo

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  3. Isso começa de casa ....È infelizmente nos acostumamos com essa rotina e nos tornamos insensíveis para o que nos rodeia.Isso começa em casa qdo. ñ damos o devido valor para o que nos rodeiam. Como costume de casa vai á praça ' é isso que vemos no nosso cotidiano. nenhum interesse pelo próximo e uma luta desenfreada pra atingir nossos objetivos . ^N sei se entendí direito !bjs

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