E na minha rotina, que acredito ser comum a muitas pessoas, levantei. Como sempre, o despertador tocou às quatro horas, porque o soneca é sempre ativado, logo às quatro e quinze consegui levantar. Tomei banho, me arrumei, comi uma banana e fui para a caminhada/corrida matinal que tanto bem faz a saúde. Consegui assim sair de casa às quatro e quarenta e cinco, meio escuro ainda, mas é o horário que tenho para caminhar já que os compromissos no dia-a-dia me impedem de ir outro horário, seja por estar ocupado ou cansado demais. Sai de casa, como sempre dei duas voltas na chave por segurança ou por mania? Não sei muito bem o porque de certos hábitos, me alonguei na calçada em frente ao prédio que moro, o qual se localiza no bairro de Jaguaribe próximo ao Centro. Com essa localização o meu trajeto é sempre uma caminhada de 10 minutos até a lagoa (Parque Solon de Lucena) lá dou uma corridinha e volto caminhando. Mas nesse dia notei algo diferente e me lembrei de um poema do Drummond "no meio do caminho". Não sei se por estar meio escuro e eu ter um jeito de andar meio desajeitado arrastando os pés, o que me faz tropeçar muito. Portanto, depois de me alongar comecei a caminhada, nesse dia, como nos outros, havia uma espécie de neblina, acho que por conta do horário, que com a falta da claridade que tornava o caminho um pouco mais difícil de enxergar. Fui como sempre devagar, afinal eram quatro e cinquenta da manha aproximadamente e na noite anterior eu me deitara as duas. Segui o caminho de sempre, desci pela Rodrigues de Aquino para quando chegasse na altura da Lagoa descer para dar a corridinha. Na ida passei em frente aos prédios do poder público que ficam no Centro, porém nessa caminhada tropecei a primeira vez, não lembro qual dos prédios era, mas tropecei. Lembrei! "tinha uma pedra", não sei muito bem o porque, mas lembrei e continuei a pensar enquanto caminhava no poema, tropeço novamente. Penso comigo "sou muito desastrado, preste atenção nas pedras no meio do caminho". Continuei e tropecei novamente, comecei a me irritar, porque quem topa por aí sabe como é irritante. Porém as topadas não doíam e não escutei nenhuma das pedras rolarem depois da topada. Me intriguei, mas continuei a caminhada com mais cautela. Escutei um barulho que não era de pedras rolando nem de carros ou motos, logo apressei o passo e tropecei mais uma vez antes de passar por ali. Cheguei a lagoa sem mais tropeçar e corri. Voltando já estava mais claro e a neblina tinha se dissipado, logo pensei que conseguiria enxergar as pedras e delas me esquivar dessa vez. E o poema seguiu em minha mente "no meio do caminho tinha uma pedra". Quando cheguei na altura de onde os tropeções haviam ocorrido, prestei bem atenção e me espantei! Me senti incomodado. Passando pelo prédio vi um segurança do prédio público que ficava no local enxotando uma dúzia de pessoas que dormiam ali, as vi levantando, pegando os papelões e havia um bebê chorando. Percebi aí que eu não havia tropeçado em pedras, mas que o que tinha no meio do meu caminho eram pessoas. E que não havia neblina, mas sim uma ignorância que não me permitia enxergar. Não pensei em momento nenhum em julgar aquelas pessoas, tive raiva de mim e da sociedade que constrói esse cenário. E nesse dia o poema ganhou um novo sentido, porque
"nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida das minhas retinas fatigadas
nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra" e muito mais coisas a enxergar.
"nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida das minhas retinas fatigadas
nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra" e muito mais coisas a enxergar.
Nilson Ribeiro
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a quem o perdão pela cegueira? a quem a culpa pela cegueira?
ResponderExcluirUma bela reflexão, Juninho.
muito bom seu texto!sefizer disso uma prática teremos mais um escritor na família porque poeta vc.já é bjs
ResponderExcluirMais que um Poema é uma excelente filosofada...de fato as "topadas" morais doem mais que as "físicas"...bela meditação!
ResponderExcluirbeijos do Vovô colega de caminhadas e... topadas!!!
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